REAJUSTE DO FRETE PODE INFLUENCIAR PREÇO DE PRODUTOS NO COMÉRCIO

O reajuste médio da tabela do frete, promovida há duas semanas pela Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT) pode gerar prejuízos da ordem de R$ 1,09 bilhão nas divisões do comércio, como o setor varejista, atacadista e comércio automotivo, segundo projeção da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

No dia 5, a nova tabela de frete foi reajustada devido ao reajuste do valor do preço do óleo diesel provocado pela Petrobrás. Segundo a ANTT, a nova tabela teve reajuste que varia de 1,66% a 6,24%, dependendo do tipo de carga e da distância percorrida contratada. A média ponderada da operação ficou entre 3% e 5,5%. Conforme a nova tabela, o preço mínimo do frete para carga geral aumentou de R$ 2,10 para R$ 2,16 até 100 quilômetros, considerando um caminhão com três eixos, por exemplo.

De acordo com a CNC, sem espaço para repasses de preços, a correção da tabela do frete irá impor perdas adicionais às margens do comércio. Segmentos atacadistas de matérias-primas, de combustíveis e de alimentos serão os mais penalizados. Segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as despesas com fretes em todo o comércio representam 10,5% de suas despesas totais.

No comércio atacadista, onde as despesas com a logística de mercadorias têm uma participação maior na matriz de custos das empresas, o peso com serviços de transportes (15,4%) é ainda mais elevado. No varejo e no comércio automotivo, esses percentuais correspondem a 6 e 5,1%, respectivamente. O comércio, atividade situada no fim da cadeia produtiva, deverá sofrer direta ou indiretamente com elevação do custo do frete. Além de arcar com gastos adicionais para o escoamento de suas mercadorias, a operação do setor poderá ser impactada por repasses parciais provenientes de outros setores da economia.

Com o reajuste da tabela, até o fim de 2018, o comércio atacadista será o mais penalizado de acordo com a CNC, devendo incorrer em gastos adicionais de R$ 750,8 milhões. O varejo e o comércio automotivo terão gastos extras de R$ 293,8 milhões e R$ 44,9 milhões, respectivamente o que perfaz o total aproximado de R$ 1,09 bilhão. Com o cenário de baixa atividade econômica, o chefe da Divisão Econômica da CNC, Fábio Bentes teme que ocorra menos contratações e investimentos no setor.

Entre os empresários a solução pode estar na contratação do frete coletivo. “Preciso trazer máquinas e suprimentos de outros estados. As máquinas de fotocópias demandam de manutenção, ou seja, os custos são constantes e elevados. Tenho outros colegas que compramos mercadorias juntos e divididos o valor do frete, o que tem amenizado nossa despesa”, frisa o empresário Ricardo da Silva que contabiliza cerca de 15% de frete no valor das mercadorias que vende no setor de reprografia.

Além da CNC, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) também são contra a tabela do frete temendo prejuízos nos setores da indústria e alimentos em geral.

SOBREVIVÊNCIA DO CAMINHONEIRO

Se para os empresários a tabela do frete representa custos extras, para os caminhoneiros é a garantia de renda justa eliminando a barganha e opressão de alguns contratantes. O Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga do Sul Fluminense (Sinditac) entende que os valores são justos para regulamentar o serviço de frete. “O valor do combustível incide sobre o valor da tabela do preço mínimo do frete. Se o óleo diesel sobe, a tabela também é reajustada para não gerar prejuízo ao caminhoneiro. A tabela é lei e deve ser cumprida”, frisa Francisco Wilde, presidente do Sinditac.

Para o motorista autônomo Manoel Dias, o comércio tem mecanismos para driblar o impacto da tabela do frete, porém, os caminhoneiros dependem do contrato justo para levar dinheiro para sua família. “Pra levar uma carga do interior fluminense até o Nordeste o motorista tem um custo elevado e com a tabela esse valor é regularizado, não tem como uma empresa desrespeitar. A ANTT já está fiscalizando, inclusive. Antes, as empresas pressionavam o trabalhador a levar da forma mais convincente. A tabela garante a nossa renda, haja vista o custo do combustível e outras despesas que temos numa viagem”, comenta.

A decisão sobre a constitucionalidade da tabela do frete segue no Supremo Tribunal Federal, com o relator ministro Luiz Fux. O ministro deve ouvir órgãos envolvidos sobre o impacto da tabela de frete e submeter, provavelmente após as eleições, o tema de volta à pauta para a decisão final do plenário do STF.

 

 

Fonte: A voz da Cidade

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