A oito dias de mais uma decisão na taxa básica de juros da economia, a janela para resgatar os títulos do Tesouro Direto prefixados com rentabilidade turbinada – antes do prazo de vencimento – está se fechando para o investidor. A expectativa é que este seja o último corte que o Banco Central fará na Selic até o fim de 2018. Além disso, espera-se uma alta da taxa ao longo do ano que vem. E, na lógica de mercado, os títulos prefixados tendem a se valorizar conforme os juros caem.
Isso acontece porque os títulos prefixados, ao contrário do que o nome sugere, têm uma flutuação entre a compra e o vencimento em função das condições de mercado e das expectativas quanto ao comportamento da política monetária.
Como exemplo, a economista Paula Sauer, professora do Ibmec, simulou o desempenho de um título LTN com taxa de 10,3% ao ano, comprado em 17 de março do ano passado e com vencimento em 1.º de janeiro de 2021. Caso o valor aplicado tenha sido R$ 1.000, e o investidor resolvesse antecipar o saque para última sexta-feira, receberia rendimento bruto de 16,03%. Descontadas taxas e impostos, o retorno líquido seria 12,97%, ou R$ 1.145,17.
Os especialistas, no entanto, destacam que a estratégia de resgatar antes do vencimento só vale para quem pensa em migrar para um investimento mais rentável, como alguns fundos que mesclam renda variável e renda fixa (os multimercado), ou para quem precisa do dinheiro para alguma emergência. Do contrário, ressaltam que especular com o Tesouro pode gerar perdas e prejudicar o funcionamento do mercado.
Professor da Fecap, Joelson Sampaio explica que a rentabilidade informada no momento da compra do título é garantida somente se o investidor ficar com o papel até o vencimento. Vendendo o título antes, a rentabilidade poderá ser diferente.
‘Janela’. No último ano, a Selic caiu pela metade, atingindo o nível de 6,5% ao ano. A previsão é que a taxa termine o ano a 6,25%. Essa janela de oportunidade está se fechando porque o mercado prevê que esse movimento de queda deva se encerrar nas próximas reuniões, com perspectiva de alta em 2019.
A expectativa do mercado financeiro para a Selic ao fim de 2019 é de 8% ao ano. “O investidor que comprou lá atrás maximiza o retorno no fim desse ‘vale’ que forma o movimento da queda da taxa de juros. Se a taxa já aponta para subir, é o momento de se desfazer desse papel”, explica Bruno Carvalho, gestor de renda fixa da Guide Investimentos.
O gestor da Guide lembra que muita gente comprou o Tesouro IPCA+ 2035, que paga a variação da inflação no período mais uma taxa prefixada. Há dois anos, isso significava uma taxa entre 6,5% e 7%; hoje, o mesmo título paga cerca de 5%.
De acordo com Carvalho, da Guide, caso da Selic inicie um movimento de alta, os títulos pós-fixados, que acompanham a trajetória da taxa de juros, tendem a ganhar força.
O especialista diz, porém, que esse aumento da taxa de retorno pode ser aproveitado fora dos títulos públicos. Ele lembra que os papéis privados, emitidos por empresas, costumam remunerar acima do CDI, que é uma taxa balizada na Selic. “Se a economia tende a ir melhor, pode ser a hora de tomar pouco mais de risco no sentido de acreditar nas empresas, em vez de acreditar só no governo.”